RELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS ACÚSTICO-ARTICULATÓRIAS DE VOGAIS ANTES DE <S> E SUA DITONGAÇÃO VARIÁVEL EM CIDADES BAIANAS
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2018.v20n2a18019Palavras-chave:
Características acústico-articulatórias de vogais. Ditongação diante de <S>. Atlas Linguístico do Brasil.Resumo
Busca-se, neste trabalho, apontar relações entre características acústico-articulatórias de vogais diante de <S> e a sua ditongação variável. Esse fenômeno será observado a partir de realizações dos vocábulos LUZ, ARROZ, DEZ, TRÊZ, VOZ e PAZ, obtidas da aplicação do Questionário Fonético-Fonológico do Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Parte-se da fala de dez informantes nativas de cinco cidades baianas (Salvador, Caravelas, Euclides da Cunha, Vitória da Conquista e Barra). Esse tipo de ditongação não somente particulariza o Português Brasileiro em face do Português Europeu (LEITE DE VASCONCELOS, 1970 [1901]; CÂMARA JR, 2009 [1956]; SILVA NETO, 1963; NOLL (2008) etc.), mas também caracteriza variedades da língua portuguesa falada no Brasil, conforme demonstra Silva (2014), a partir de dados das capitais brasileiras. Ressalta-se que os condicionamentos de natureza extra e intralinguísticas, para esse processo, não são suficientemente conhecidos. Mediante o estudo com as capitais (SILVA, 2014), todavia, hipotetizou-se que vogais mais abertas e mais longas seriam mais suscetíveis a esse processo, tomando por base a organização das sílabas, com relação ao grau de sonoridade e força dos segmentos (HOOPER, 1976; FOLLEY, 2009; CLEMENTS E HUME, 1996). As características dessas vogais oscilariam no eixo diatópico, garantindo, assim, a distribuição diferenciada das vogais ditongadas. De uma análise variacionista, com os dados da Bahia, verificou-se que: (i) cidades como Salvador e Santo Amaro, cujas formações históricas são semelhantes, destacam-se quanto à ditongação diante de <S>; (ii) vogais mais baixas/ abertas são mais suscetíveis à ditongação. Com o auxílio do programa PRAAT (BOERSMA; WENICK, 2018), verificaram-se, então, os valores para F1, F2 e duração dos segmentos investigados. De modo geral, viu-se que vogais mais baixas e mais longas ditongam mais.Referências
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